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Centenário de Sarah Vaughan: uma voz inesquecível do jazz

Hoje, 27 de março de 2024, o mundo da música comemora 100 anos do nascimento da lendária vocalista de jazz Sarah Vaughan. Nascida em Newark, Nova Jersey, Vaughan iniciou sua jornada musical aos 7 anos, tendo aulas de piano e cantando no coral da igreja. Ela nos deixou um legado artístico que repercutiu muito ao longo da história do jazz.



Nos primeiros anos de sua carreira, assim como tantos outros de sua geração, Vaughan enfrentou o preconceito da sociedade. Em uma entrevista à revista DownBeat, em 1961, Sarah disse:

“Muitas vezes desejei ter uma cor de pele morena média. (…) Imaginei que as pessoas dessa cor fossem mais valorizadas do que eu. Para a maioria das pessoas que me conheciam, pensei, eu era apenas mais uma garotinha negra para quem o futuro era tão sombrio quanto o era para milhares de outras pessoas como eu.”

Ainda nessa entrevista, ela lembrou que quando foi apresentada ao público de Chicago pelo disc jockey Dave Garroway, no início dos anos 1950, foi surpreendida por tomates jogados em sua cabeça. Seu primeiro pensamento foi que ela havia levado um tiro, quando “viu manchas vermelhas espalhadas por seu vestido branco”. Assustada, confusa e humilhada, Vaughan se escondeu nos bastidores fora do palco. O jornalista Garroway ficou tão indignado que fez um discurso contra o racismo após o acontecido.


Contudo, nas décadas seguintes, ela fez turnês sucessivas e recebeu reconhecimento da crítica em revistas como Esquire, DownBeat e Metronome.


O amor pelo Brasil


Minha parte favorita na carreira de Vaughan, sem dúvida, foram seus álbuns dedicados aos sons brasileiros no final dos anos 1970 e 1980. Inclusive, lembro da primeira vez que a ouvi há alguns anos, e ao pesquisar mais sobre a artista, descobri esse seu amor pelo Brasil. Foram três álbuns inteiramente dedicados aos nossos ritmos.


E quando ela não estava participando vocalmente dos clássicos atemporais de Tom Jobim e Milton Nascimento, ela continuou a gravar e fazer músicas incríveis com a elite do jazz em álbuns como “How Long Has This Been Going On?” (1978), com participação do pianista Oscar Peterson, do guitarrista Joe Pass, do baixista Ray Brown e do baterista Louis Bellson.


No mesmo ano do lançamento do álbum, a artista recebeu um Doutorado Honorário em Música da Berklee College of Music. Além disso, ao longo de sua carreira, recebeu um Grammy (de nove indicações).


Um legado de arte musical


Vaughan tinha um alcance vocal incomparável de 4 oitavas, que esbanjava controle e capricho flexível que deixava outros músicos maravilhados.


Aliás, seus alcances vocais foram um fator importantíssimo na apreciação de seu talento. Frank Sinatra disse sobre seu extraordinário talento artístico: “quando a ouço, tenho vontade de cortar meus pulsos com uma navalha cega”. Mel Torme a elogiou por ter “o melhor instrumento vocal de qualquer cantora que trabalha na área popular”, enquanto Ella Fitzgerald a chamou de “o maior talento vocal do mundo”.


Entre os críticos musicais, John S. Wilson acreditava que ela tinha “o que pode muito bem ser a melhor voz já aplicada ao jazz”. E para Gary Giddins, Vaughan foi a melhor intérprete do repertório de canções pop padrão que já tivemos e quase certamente o mais controlado.


Seu controle de timbre, articulação e estilo foram acompanhados por um dom infalível; a rara capacidade de improvisar harmonicamente, melodicamente e ritmicamente; e uma imaginação desenfreada que fazia com que tudo valesse a pena.


Ela foi muito importante na construção do jazz moderno. Mas não importa quão minuciosamente eu fale sobre as particularidades do seu talento, alcance, energia e inteligência, pois, inevitavelmente, tudo acaba se resumindo em contemplar com admiração o mais fenomenal dos seus atributos: uma voz que acontece uma vez na vida.


Vaughan influenciou uma geração de cantores, de Anita Baker a Rickie Lee Jones. Após sua morte, aos 66 anos, em 3 de abril de 1990, duas de suas maiores fãs, as vocalistas de jazz Carmen McRae e Dianne Reeves, gravaram álbuns comoventes em homenagem ao seu impacto.


Por fim, como forma de agradecimento e homenagem a essa grande artista da história do jazz e da música, vou deixar abaixo uma lista com minhas cinco músicas favoritas cantadas por ela.


1. Misty



2. Tenderly



3. Copacabana



4. April in Paris



5. I’m Lost




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