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Frio, vinho e jazz: ouça o clássico "Ella and Louis" (1956)

Não sou uma amante do frio, mas sei que ele combina perfeitamente com um bom vinho e grandes clássicos de jazz. Por isso, hoje resolvi fazer uma review de um disco atemporal que se encaixa perfeitamente no clima que estamos vivendo.



Dentro do gênero musical, poucos álbuns são tão reverenciados quanto "Ella and Louis", de Ella Fitzgerald e Louis Armstrong. Gravado em 1956 no Capitol Studios, o disco não é apenas um dos maiores álbuns de jazz já gravados, mas um que consegue agradar até as pessoas que não costumam ouvir o estilo musical com tanta frequência. Claro, esta é uma opinião subjetiva, mas "Ella and Louis" é tão bonito de se ouvir e apreciar que consegue envolver a alma de todos os amantes da música. E esse é um dos motivos que faz deste disco um clássico atemporal!



Tendo colaborado anteriormente no final da década de 1940 para a gravadora Decca, este foi o primeiro de três álbuns que Fitzgerald e Armstrong gravaram juntos para a Verve Records. Além desse, os dois brilharam juntos em  "Ella and Louis Again" (1957) , e "Porgy and Bess" (1959) - que estão entre os melhores já gravados também.


Se parar para pensar, é uma dupla até "estranha", pois você tem Ella com seu vocal delicadamente suave contrastando com a dicção grave de Armstrong, mas a combinação é como aqueles encontros raros de se acontecer na vida. Simplesmente sensacional.


Destaco aqui também o trompete sensacional de Armstrong, que sobe enquanto a banda toca discretamente e abrilhanta todas as canções do álbum. Da mesma forma, é preciso reconhecer a seleção de músicas do fundador e produtor da Verve, Norman Granz, pois a sequência de músicas é uma das melhores seleções da história.


Track by track


Can't We Be Friends?


"Can't We Be Friends?" é uma linda faixa de abertura que define o ritmo do álbum. Não muito rápido e certamente não muito lento, permitindo assim que o ouvinte se acomode e relaxe com uma música suave de jazz. Além disso, o elemento vocal de encerramento de Armstrong é simplesmente magnífico.



Isn't This A Lovely Day?


Agora, "Isn't This A Lovely Day?" muda o andamento do álbum para o lado mais lento dele, mas a transição é tão fluida e suave que você realmente não percebe a mudança, pois parece muito natural.


Um dos aspectos mais notáveis ​​desta música é o sutil acompanhamento musical por baixo do vocal rouco de Armstrong. É simplesmente um contraste impressionante muito prazeroso de ouvir. E como se não bastasse, você ainda tem os tons suaves de Fitzgerald que se fundem com o magnífico solo de trompete de Armstrong. Essa música é, com certeza, uma das minhas favoritas do disco!



Moonlight In Vermont


Mais uma vez, o trompete de Armstrong eleva "Moonlight In Vermont" a outro nível. Essa é uma melodia magnífica e Ella e Louis fizeram uma brilhante releitura desse clássico. Confesso que gosto muito também da versão de Billie Holiday dessa canção, mas, como já dito, o trompete faz toda a diferença nessa releitura.


E claro, se eu for destacar o quão fã eu sou de Ella Fitzgerald, ficaria horas e horas aqui escrevendo sobre os vocais impecáveis dela.



They Can't Take That Away From Me


Com uma melodia mais alegre misturando-se com uma espécie de melancolia, "They Can't Take That Away From Me" é aquele jazz clássico de trilha sonora de filme. Eu, particularmente, adoro esse estilo de música em que as letras contam uma história literal, clara e desobstruída, pois se torna algo memorável. 



Under A Blanket Of Blue


"Under A Blanket Of Blue" é uma obra-prima e uma das minhas músicas favoritas do álbum também. Seus tons românticos são inconfundíveis e, como na maioria das músicas da época e aquelas que precederam a gravação, a intenção literal era muito mais primordial do que na era moderna, onde a interpretação é frequentemente subjetiva e diferente do significado pretendido. Ou seja, você consegue sentir no timbre deles que se trata de uma canção de amor.



Tenderly


Eu considero "Tenderly" uma faixa sólida, mas também com algumas coisas a se pontuar. Como eu já disse antes, o trompete de Armstrong é um diferencial enorme no álbum, mas acho que nessa música ele acaba se sobressaindo muito sobre os vocais em determinados momentos. Inclusive, na parte final da música, parece que o áudio do trompete está até mais alto que o restante da mixagem - o que causa um leve incômodo. 



A Foggy Day


"A Foggy Day" é a segunda obra-prima do compositor Gershwin apresentada em "Ella and Louis"; a primeira sendo "They Can't Take That Away From Me". A gravação de Sinatra em "Songs For Young Lovers" é fantástica, assim como a interpretação de Billie Holiday, mas nenhuma delas chega perto da perfeição que é ouvida nesta gravação. Jazz, jazz e jazz!



Stars Fell On Alabama


Assim como as outras músicas do disco, "Stars Fell On Alabama" é um padrão de jazz espetacular. Os vocais entrelaçados de Fitzgerald e Armstrong são o destaque aqui, pois um é harmônico enquanto o outro está entregando a letra real. É simplesmente magnífico!



Cheek To Cheek


"Cheek To Cheek" também é uma das minhas favoritas. Essa é uma das faixas que mostra que a colaboração de Fitzgerald e Armstrong é atemporal. Além disso, digo que essa também é a melhor interpretação já gravada dessa música. Confesso que dá uma vontade de dançar cheek to cheek



The Nearness Of You


Eu falei que, se eu fosse falar de Ella Fitzgerald, eu ficaria horas escrevendo. Mas, quando penso nessa música, é Fitzgerald que ouço. "The Nearness Of You" destaca a proeza vocal dela - e que vocalista incrível! Poucas pessoas na história da música tiveram a mesma relevância e potência que Ella.  



April In Paris


"April In Paris" é um encerramento maravilhoso que deixará você não apenas saciado, mas contemplativamente disposto a tocar "Ella and Louis" novamente, pois é uma verdadeira obra-prima. Mais uma vez, confesso que sou apaixonada pela versão de Billie Holiday dessa música, mas Fitzgerald e Armstrong conseguiram ser tão bons quanto. 




 

O ditado "não fazem mais músicas como antigamente" certamente soa verdadeiro para "Ella and Louis", que conta com algumas das melhores músicas já gravadas. Enquanto seus outros dois lançamentos colaborativos da Verve Records são um bônus para os amantes dos dois artistas, há algo especial sobre esta primeira apresentação que nunca foi replicada nessas gravações adicionais, tornando "Ella and Louis" uma obrigação para qualquer bom ouvinte de música.


Dito isso, apenas abra um vinho, reduza as luzes e aprecie esse clássico do jazz debaixo das cobertas. Garanto que você não vai se arrepender!



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