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Um pedaço da história: Aretha Franklin - I Never Loved a Man the Way I Love You

Atualizado: 6 de mar.

O álbum "I Never Loved a Man the Way I Love You" de Aretha Franklin é verdadeiramente uma obra-prima e um marco na história da música. Lançado em 1967, o disco representa não apenas a consolidação da Rainha do Soul, mas também um ponto de virada na abordagem das cantoras americanas em relação à independência e autenticidade.



Aretha Franklin foi a revolução em pessoa. Do soul ao jazz, do R&B ao rock, passando pela música gospel e pelo funk, a cantora nunca deixou de ser protagonista, mesmo em uma era dominada por homens. Ela se consolidou como uma das maiores vozes do mundo, tendo vendido 75 milhões de discos e conquistado 18 Grammys - sem contar as indicações e prêmios honorários. 


Há muito o que falar dela, mas para conhecer melhor a obra da cantora  e apreciar uma das maiores artistas já vistas no planeta Terra, nada como começar pelo seu primeiro álbum pela gravadora Atlantic Records, considerado por muitos o seu maior clássico.


Sucesso em cada faixa


Respect


A faixa de abertura, "Respect", originalmente de Otis Redding, ganha um novo significado nas mãos de Aretha. A interpretação dela não só é poderosa vocalmente, mas também se torna um hino da independência feminina e dos direitos civis. A introdução de piano, o contrabaixo pulsante e os vocais de fundo dão o tom para o álbum, que é uma mistura magistral de soul, R&B, gospel e rock.


Na lista de As 500 Melhores Músicas de Todos os Tempos, segundo a revista Rolling Stones dos EUA, “Respect” é simplesmente a melhor de todas, mantendo-se no TOP 1 em meio a tantos outros clássicos. Sabendo disso, acho que a música dispensa comentários, né?!



Drown in My Own Tears


Poucos conseguem cantar blues como Aretha. 'Drown In My Own Tears', de Ray Charles, previamente gravada por Dinah Washington, é uma faixa extremamente delicada, suave e sentimental. A letra aborda os sentimentos de tristeza e saudade que surgem quando alguém que você ama não está mais presente. Eu sou completamente rendida aos acordes de piano no começo acompanhados da voz de Aretha. Quando o baixo e a bateria entram, é difícil não chorar com essa... haja coração!



I Never Loved a Man (The Way I Love You)


A faixa que leva o nome do álbum é simplesmente regra quando se trata de ouvir Aretha Franklin. “I Never Loved a Man (The Way I Love You)” é uma música sobre a declaração de uma mulher de seu amor incondicional por um homem que mudou sua vida para sempre.


A melodia da música é inesquecível. A entrega da cantora é perfeita, com sua voz combinando perfeitamente com o piano, os trompetes e os backing vocals. Minha parte favorita da canção é justamente no seu ápice, quando Aretha faz um belíssimo agudo ao cantar  I ain't never, no, no…” e, então o instrumental para totalmente, restando apenas o vocal descendente dizendo loved a man the way that I, I love you”. ISSO É ELITE!




Soul Serenade


“Soul Serenade” é uma balada soul clássica que apresenta os vocais poderosos e emotivos de Aretha, além do belíssimo arranjo que inclui cordas excepcionais e uma parte de guitarra memorável. Essa música mexe comigo porque, justamente, fala do poder da música para curar a alma.


Aretha Franklin não escreveu a canção, mas sua interpretação da música captura lindamente a essência de seu significado profundo. A faixa fala do desejo universal de conexão, reflexão e consolo que cada pessoa experimenta em algum momento da vida. Serve como um hino de esperança, lembrando-nos que mesmo nos momentos mais sombrios, a música tem o poder de elevar e curar.



Don’t Let Me Lose This Dream


Não tenho certeza se classificaria essa como bossa nova, mas sei que há algo diferente acontecendo com a batida dessa música. A verdade é que “Don’t Let Me Lose This Dream” tem também um toque de jazz e traz uma sensação diferente, como um ritmo ligeiramente diferente mesmo.


Escrita por Aretha, a faixa mostra que ela não era apenas uma voz, mas também sabia escrever. Quando ela canta “and I only know, I only know, I only know…” com uma melodia vocal descendente, eu chego a perder as estribeiras. Apenas ouçam!



Baby, Baby, Baby


Aliás, um fato importante é que Aretha escreveu e/ou participou de quatro das onze canções do álbum. “Baby, Baby, Baby” é uma linda balada escrita pela cantora que fecha o Lado A do LP. É também uma das únicas músicas que Aretha e sua irmã mais nova, Carolyn, escreveram juntas. O que me fascina nessa faixa é a simplicidade do piano de Aretha, a compasso lento do andamento e o vocal forte e comovente que ela coloca. Arte.



Dr. Feelgood (Love Is a Serious Business)


O blues "Dr. Feelgood", em particular, é um destaque do disco. A música explora as emoções complexas que cercam o amor e o poder transformador de um relacionamento saudável. Os vocais poderosos de Aretha Franklin criam na música um senso de urgência e profundidade emocional, mostrando o impacto que o amor pode ter em uma pessoa.



Good Times


"Good Times" tem um ritmo dançante e uma melodia cativante. Escrita por Sam Cooke, a canção incorpora o espírito do movimento pelos direitos civis e pela igualdade racial. A música celebra as alegrias da vida diante das adversidades. Talvez por isso tenha um ritmo mais alegre. "Good Times" é um lembrete de que não importa o que aconteça, bons momentos sempre podem ser encontrados se alguém os procurar.



Do Right Woman, Do Right Man


Do Right Woman, Do Right Man” é uma faixa fundamental de Aretha não apenas por sua história, mas também por sua mensagem. Tanto na mensagem quanto na sensibilidade, essa música, para mim, se torna uma canção de soul genuíno com um pegada country em sua essência.


Aretha contribui com várias partes para a música. Em uma camada, ela harmoniza com seu vocal principal durante o refrão. Em outro, Aretha e suas irmãs, Erma e Carolyn, fornecem uma camada secundária de vocais para preencher o som e criar um refrão arredondado. Um isolado “why don’t cha, why don’t cha” que se ouve em um dos refrões une tudo. Descobri também que Aretha não está apenas cantando, ela também está fazendo uma dupla função instrumental, tocando duas partes de teclado. Isso deixa tudo ainda mais surpreendente.



Save Me


“Save Me” é a penúltima faixa do álbum e outra obra que Aretha co-escreveu. A música é única porque, musicalmente, a faixa é um disco básico que repete três acordes repetidamente, principalmente na guitarra e no baixo, com percussão preenchendo a instrumentação. É possível ouvir com clareza o sax e outros instrumentos de sopro. 


É vocalmente muito despojado também. Aretha carrega “Save Me” completamente solo. Mas a ausência de vozes secundárias não cria nenhum vazio. Na verdade, o vocal único faz total sentido a mensagem da música. Os gritos da cantora de “salve-me, alguém me salve” não são acompanhados, talvez porque ela esteja sozinha nessa luta, enquanto implora pela ajuda de alguém.


Apesar da letra pesada, os três acordes e a instrumentalização transformam um pedido de ajuda em um ritmo dançante e envolvente. 



A Change Is Gonna Come


A última faixa do disco (e minha favorita, admito) é um cover de uma das faixas mais poderosas da década de 1960: “A Change Is Gonna Come”, de Sam Cooke. A história da música é sempre memorável e mudou minha visão sobre a canção depois que a descobri. Sam Cooke a escreveu em parte depois de ouvir “Blowin In The Wind”, de Bob Dylan. Ele provavelmente também foi influenciado por uma experiência racista que sofreu. Sam cantou a música apenas uma vez, e o vídeo dessa apresentação, infelizmente, não pode ser encontrado em nenhum lugar da internet. Ele morreu pouco depois da apresentação.


A versão de Aretha, então, é uma espécie de carta de amor para Sam. Desde a frase de abertura, ela deu seu próprio toque a isso. “Há um velho amigo que, uma vez ouvi dizer, algo que tocou meu coração. E começou assim”, canta enquanto toca piano em homenagem ao seu falecido amigo e ídolo. Honestamente, eu amo a ideia de que Aretha esteja narrando a música em memória de Sam e em nome dele. 


A música é pesada. O arranjo é poderoso. A letra dispensa comentários. Com certeza, minha música favorita do álbum.



Uma obra que transcende décadas


Ao longo do álbum, Aretha Franklin aborda temas como amor, decepção, luta por ideais e mudanças sociais. Sua habilidade de transitar entre diferentes estilos musicais, desde o blues emocional de "Drown in My Own Tears" até a vibe festiva de "Good Times", demonstra sua versatilidade e domínio do black music.




Outro fato é que, a participação ativa de Aretha, tocando piano e liderando a banda, adiciona uma camada extra de autenticidade ao álbum. As letras escritas por ela mesma, como em "Don't Let Me Lose This Dream" e "Baby, Baby, Baby", revelam uma profundidade lírica que complementa sua expressão vocal poderosa.


A ligação com Sam Cooke e Ray Charles por si só pode ter sido suficiente para garantir o lugar do álbum na história. Ele fundamenta o álbum diretamente na história, marcando o ponto em que a ênfase da música soul começou a mudar dos homens para as mulheres, e mostrando onde o soul esteve e para onde estava indo.


O álbum não só consolidou Aretha Franklin como uma das maiores vozes do mundo, mas também influenciou gerações subsequentes de artistas. Sua capacidade de transmitir emoção e verdade através da música é evidente em cada faixa, tornando "I Never Loved a Man the Way I Love You" um clássico atemporal e uma experiência musical enriquecedora. Essa é, com certeza, uma  obra que transcende décadas.




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