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Uma verdade? O melhor álbum da SZA é "Ctrl"!

Apesar de SZA ser a rainha da mentira, precisamos falar sobre verdades dolorosas: o melhor álbum de sua carreira é o "Ctrl", lançado em 2017. Mesmo que "SOS" (2023) seja um dos melhores álbuns da década, o que Solána Imani Rowe fez em "Ctrl" é coisa de outro mundo.


Um impacto que vai além de seu tempo de duração


Após o lançamento do EP "Z" (2014), o álbum de estreia de SZA veio para provar que ela é uma estrela da música. "Ctrl" é uma profunda e dedicada dissertação sobre o papel da mulher nas relações de amor modernas, que ao mesmo tempo excede e desafia os limites do R&B, além de mostrar a vulnerabilidade de estar no exato ponto entre o fim da adolescência e o começo da vida adulta. 


SZA escreveu a maioria das canções e, como o nome sugere, ela reclama do controle de sua vida talvez pela primeira vez, apenas para nos mostrar o quão insegura ainda é a menina dentro de si e o quanto a confiante mulher que cresce a cada dia tenta se estabelecer. 


O trabalho em conjunto com grandes compositores e produtores resultou em um projeto neo soul e R&B, com elementos de hip hop, música eletrônica, indie e soul. Liricamente, o álbum passa em torno de uma temática confessional, retratando tópicos referentes às relações e complexidades pessoais do amor moderno, incluindo o desejo, competição, ciúmes, regras sexuais, mídia social e baixa autoestima. E, para mim, é justamente essa liricidade, este misto entre insegurança e confiança que torna "Ctrl" melhor que "SOS". Durante os compactos 49 minutos do álbum, SZA utiliza de suas próprias experiências para fazer história na indústria musical.


Além de toda a minha devoção e da grande aclamação da crítica especializada, o álbum teve um sucesso comercial bem considerável. Estreou na terceira posição da Billboard 200, com mais de 60 mil cópias na primeira semana de lançamento. Para promover o álbum, foram lançadas como singles oficiais as faixas "Drew Barrymore", "Love Galore", "The Weekend" e "Broken Clocks", sendo o último lançado antes do álbum como single promocional. O álbum e as canções foram nomeadas para o Grammy Awards de 2018, além da indicação para Artista Revelação.


As belas harmonias vocais de SZA, instrumentação e composições impressionantes nos levam através de sua experiência com o coração partido e sua luta pelo controle. Aliás, o álbum, embora não necessariamente siga uma narrativa linear, ainda é muito fortemente vinculado conceitualmente. Cada música apresenta um conflito por controle, com as letras detalhando uma pesada luta interna entre ser independente e dependente de alguém que não a prioriza.



Track by track


Supermodel


O álbum começa com "Supermodel", uma reflexão despretensiosa sobre a necessidade de um parceiro e o conflito entre independência e dependência. À medida que a música avança, a instrumentação cresce gradualmente, criando um belo ambiente com uma bateria marcante e os vocais de SZA ao fundo, talvez representando um lobo solitário - até porque é só em "SOS" que ela se torna a loba (bem estilo Alcione mesmo).


A bateria soa absolutamente incrível durante todo o álbum, proporcionando uma experiência auditiva agradável sempre que aparece. "Supermodel" abre as portas para a jornada pelas inseguranças nos relacionamentos que SZA explora ao longo do álbum.



Love Galore


Em seguida vem "Love Galore", com ninguém menos que Travis Scott. Produzida de forma impecável, esta música mostra os artistas questionando o amor de outra pessoa, embalados por uma batida quente influenciada pelo trap, que representa bem o som do R&B contemporâneo. A mudança de batida reflete uma mudança de humor, com as harmonias vocais de SZA e o instrumental mais lo-fi criando uma vibração celestial.


Também temos uma das primeiras esquetes do álbum, na qual a avó de SZA lhe dá alguns conselhos. Sua confusão entre seguir em frente e ceder ao amor é grande nesta música, mas a avó de SZA a orienta a defender a si mesma e seus verdadeiros desejos.



Doves In The Wind


Com a participação do inconfundível Kendrick Lamar, "Doves In The Wind" é uma das faixas com mais sonoridade do álbum. Bom, essa música é literalmente sobre p*ssys. Sim, isso mesmo. A música basicamente descreve até onde os homens vão para fazer sexo com mulheres. Na letra, SZA acredita que, para conseguirem isso, eles deveriam estar dispostos a dar tudo de si. A batida descontraída, no estilo boom-bap, enfatiza um clima indiferente e representa a compreensão da artista sobre ter controle na vida neste momento.



Drew Barrymore


Apesar da confiança descrita na faixa anterior, esse sentimento é rapidamente perdido. “Drew Barrymore” é praticamente o resumo das emoções conflitantes que aparecem ao longo deste álbum. A música mostra SZA refletindo seu valor no relacionamento e entrando em conflito consigo mesma em um refrão maravilhosamente cantado. A conexão entre o calor interno e externo ilustra claramente sua luta - e não é coincidência que o refrão seja tão caloroso de ouvir. 


Esta música está repleta das melodias mais fortes de todo o álbum, e a performance vocal poderosa e apaixonada de SZA é excelente; a bateria com som nítido e os sintetizadores quentes, bem como a instrumentação de cordas no terceiro refrão, servem para melhorar ainda mais essa sensação de estar debaixo de um cobertor ouvindo essa música (e chorando). 



Prom


“Prom” nos mostra SZA num estado de indecisão, sem controle total, mas também sem falta; é um momento de grande emoção e paixão do qual ela nunca mais quer sair. Ela está se divertindo, vivendo sua melhor vida, mas não quer crescer com isso. Ela se sente ótima, mas ao mesmo tempo percebe que não é tão madura quanto as pessoas ao seu redor.


A batida nostálgica nos leva aos anos 80. A performance vocal perfeita e harmonias notáveis ​​ao longo do refrão, trazem ao ouvinte uma sensação calorosa mais uma vez. Precisamos falar também sobre como a mixagem ao longo deste álbum é simplesmente perfeita.



The Weekend


Voltamos ao estado de controle com “The Weekend”, outra música mais descontraída, mas extremamente poderosa. Não é à toa que esse é um dos maiores sucessos de SZA.


A letra conta a história de três mulheres namorando simultaneamente o mesmo homem, cada uma levando-o em diferentes momentos da semana. Embora a música pareça retratar as mulheres aceitando suas posições como “outras mulheres”, o videoclipe (e a própria SZA) nos conta outra perspectiva; uma das mulheres decide que quer sair do relacionamento, jogando fora completamente o poder que o homem tem no relacionamento.


A batida incrível ressalta,  mais uma vez, a performance vocal impecável de SZA nesta música. Amo demais essa! 



Go Gina


“Go Gina” dá continuidade a essa mensagem de empoderamento, retratada pelos dois lados da personagem. Gina se refere à personagem de Tisha Campbell em "Martin", que sempre criava problemas por ser tão arrogante. Então, o personagem de Martin dizia “Daaaaammmmnnn Ginaaa” como “aqui está você de novo”.


Nessa música, Gina está criando seus próprios problemas de insegurança ao ser paranóica por não poder confiar em ninguém, quando na realidade ela não pode confiar em si mesma. A segunda metade da música mostra SZA torcendo para que Gina seja mais forte e mais confiante, dizendo “vai Gina” para motivá-la a ser menos arrogante e mais despreocupada.



Garden (Say It Like Dat)


É aqui que o álbum começa a tomar um rumo um tanto "sombrio" quando SZA se vê presa de sua dependência do amor. “Garden (Say It Like Dat)” é uma justaposição entre o interior e o exterior que fomos apresentados no refrão de “Drew Barrymore”. Vemos as mesmas inseguranças de imagem corporal e personalidade, com SZA criando uma fachada para esconder seu verdadeiro eu na esperança de parecer mais atraente para seu parceiro. A esquete com a avó de SZA no final vira isso, no entanto, motivando SZA a ser real consigo mesma e com todos os outros em vez de tentar criar uma persona falsa.


A performance vocal de SZA brilha aqui mais uma vez, com contramelodias ao longo de toda a música destacando seu canto deslumbrante, e uma batida sutil, mas presente.



Broken Clocks


“Broken Clocks” empurra SZA para um estilo mais confiante, pronto para seguir em frente sem olhar para trás. Ela observa os contras de seu estilo de vida anterior (como trabalhar como bartender em um clube de strip desde os 17 anos) e relacionamentos, jurando nunca mais voltar para eles porque está vivendo melhor agora do que antes, embora ainda guarde as memórias com carinho e ainda sinta amor. 


Enquanto SZA fala sobre estabilidade no primeiro refrão, os chimbais na batida permanecem estáveis, mas quando ela começa a falar sobre si mesma, os chimbais praticamente começam a enlouquecer. Eles ficam descontrolados, semelhante a um “relógio quebrado”. E, mais uma vez, nota mil para o canto de SZA. 



Anything


Esse é um álbum de muitos altos e baixos! Aquela confiança mais uma vez desmorona em “Anything”, quando ela considera baixar a guarda para deixar de lado suas inseguranças e paranoias; no entanto, apesar de suas promessas de mudança, ela ainda se pergunta sobre seu status na mente de seu ex.


A ligeira mudança no estilo de um instrumental espacial para uma batida brilhante e agitada representa perfeitamente seus desejos conflitantes de seguir em frente e ceder, quase como se a batida estivesse hesitando junto com ela. Essa música também é uma que exemplifica o tema principal do álbum, já que SZA tem que escolher se abre mão ou mantém o controle.



Wavy (Interlude)


SZA parece ser uma das melhores em dizer muito em pouco tempo, e “Wavy (Interlude)” é um exemplo perfeito.


Acompanhada por um artigo de James Fauntleroy (cujo autotune não é perfeito, aliás), SZA descreve sua "ondulação" nos relacionamentos, prometendo fazer um esforço para alcançá-los enquanto mantém um pé fora da porta, pronta para fugir. 



Normal Girl


Chegamos ao ponto chave desse álbum! Pelo menos para mim, “Normal Girl” é uma das melhores músicas de SZA em toda sua discografia (isso se não for a melhor).A letra é basicamente SZA descrevendo a solidão de uma mulher negra. Mostra ela sentindo algum arrependimento por seu estilo de vida e pelo que ela se comprometeu no passado. Ela deseja ser uma garota normal - alguém de quem sua família possa se orgulhar, uma garota que você possa levar de volta para seus pais - sabendo que ela é muito melhor em expressar as partes sexuais de um relacionamento do que as emocionais. Porém, no final, ela percebe que a normalidade é relativa, e ela tem em suas mãos o poder de ser quem ela quer ser, ela só precisa agir sobre isso.


A batida de bateria quase acelerada que acompanha esta música reflete a urgência em torno da mensagem, mas as progressões de acordes e, mais uma vez, a performance vocal de SZA permanecem imaculadas e apaixonadas como sempre. Aliás, os vocais realmente me deixam meio triste, especialmente quando você considera e entende o que ela está dizendo. Essa música toca na alma! 



Pretty Little Birds


Em “Pretty Little Birds”, ela finalmente expressa essa emoção usando uma fênix como metáfora para seu amor eterno (ou, neste caso, morrer e renascer). O instrumental aqui é fenomenal; seu tema etéreo, satisfatoriamente lento e espaçoso realmente arrasta suas emoções.


Essa música contém uma mudança radical na atitude de SZA em relação aos relacionamentos, mostrando-nos o quão disponível ela está para se esforçar. Sua performance vocal aqui, especialmente durante o refrão, reflete a grande dor que ela deve sentir, e seu canto quase gritante transmite isso muito bem ao ouvinte.



20 Something


O álbum encerra com “20 Something”, uma das músicas mais despojadas do disco. Parece uma visão da situação dela de uma perspectiva externa, embora seja realmente uma percepção introspectiva de que SZA não é perfeita (apesar de eu achar que sim).


Embora esteja desapontada com o andamento de sua vida, ela não quer que seus 20 anos acabem, tanto pela felicidade quanto pela necessidade de consertar as coisas enquanto é jovem. A parte final, com a mãe de SZA, nos dá um adeus inspirador, explicando a necessidade de viver pelo lado bom porque a alternativa é um abismo.



 

A verdade é que eu estaria mentindo mais que a própria SZA se dissesse que ela não é uma das melhores artistas dessa geração. A potência vocal, as letras incríveis e as performances extraordinárias apenas comprovam isso. Não é qualquer um que faz um álbum de estreia tão impactante como ela fez. Sou muito fã!


P.S.: Ainda farei o review de "SOS". Aguardem.



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